terça-feira, 28 de agosto de 2012

ALÉM


senhor – em quem não creio, porque nada há sobre nós além da vida
enlouquecida, sabedora, senhora, absoluta
o que me faz assim, desejante ardorosa do que não quero nem em sonho
quando em sã consciência?
o que me faz incorrer no absurdo do impossível, insistir no despudor existencial
quando sei que todo equívoco é tão fundamental quanto fortuito
e leva exatamente ao mesmo?

nada altera no rumo da vida
que continua, impassível.

o que me faz pretender protagonizar a tragédia humana
quando sei que isso nada significa
na história da humanidade, da terra
do que sustenta e retém?

oh dor maior porque ridícula
vã, inexistente
no curso dos acontecimentos que me ignoram tanto quanto ao mundo que habito:

por que é ainda mais pungente essa consciência
que impede o mergulho – único ato sublime
nas trevas e nas entranhas da noite inconsciente
da própria vida, afinal, tão bendita?